ANÍSIO LAGE
( BRASIL - BAHIA )
Anísio Lage (Ilhéus, BA, 30/10/1942), embora engenheiro de profissão sempre ousou, quando surgiam oportunidades, fazer incursões na literatura.
Estas poesias foram publicadas primeira vez em 1991, na revista Pau de Sebo, um empreendimento de um grupo de humoristas baianos que, infelizmente, pouco durou.
Ali assinou uma página, onde, sob o pseudônimo de Betinho Aristeu, “psicografava” Gregório de Mattos.
Evidentemente era uma brincadeira. Ele apenas estudou a maneira do autor elaborar seus versos, usou alguns termos do Português da época e, imitando o mestre, destilou veneno sobre acontecimentos daquele ano, tão rico em fatos de grande repercussão como as eleições da ACM e Collor, o caso Zélia versus Cabral e outros. Agora, diante de mais uma oportunidade, apresenta uma seleção das melhores (?).
TEMPOEMA - Antologia. Organizador: Goulart Gomes. Apresentação por Antônio Torres. São Paulo: João SCORTECCI EDITORA, 1995. 96 p. No. 10 912
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda.
PROTESTO CONTRA A SITUAÇÃO
DE MISÉRIA DA PROVÍNCIA DA
BAHIA, VÍTIMA DE DESGOVERNOS
Pagamos ver que é sina
Destas terras tão amenas
Ser um festim de hienas
De vaganaus a latrina.
Tresanda a Urbi a urina
Cresce acolá um monturo
E em cada beco escuro
Um bandorilha espreita
Uma putana se deita
Um mangano salta um muro.
Entonces, na freguesia
Volta-se a ouvir à porta
Aquela voz quase morta
Em meio a uma grande ingrizia
—Eu vou salvar a Bahia!
E organizou um entrudo
Bem melhor que o do Barbudo
E das cachopas. Pois foi.
Xingou o amigo do boi
Cujo mugir ficou mudo.
Vai voltar por vez terceira
Novamente a governar
São os mesmos a manducar
E pros sem beira nem eira
Tem sempre os restos da feira.
Ou sacudir num lundu.
Pois é pra tomar no cu
Que pobre vem para o mundo
Pra sustentar vagabundo
E eleger Bersabu.
AO VICE-REY DO BRASIL
Majestade, intercedo
Não te afobes tanto assim
Se não fazer é ruim
De afobação tenho medo
Pois chego mais cedo ao fim.
Se nada está dando certo
Com certeza tens por perto
Maganos a tripa forra
Mande-os todos para porra
Vá ao povo. Seja esperto.
Ouça o ronco das barrigas
Famintas dos desgraçados
E o grito dos desterrados.
Esqueça o paço, as intrigas
Somos nós expatriados?
Que fazem com a mãe gentil
Os vendilhões do Brasil?
Chega de corrupção!
Quando finalmente irão
Para a puta que os pariu??
À CONSELHEIRA DO TESOURO
Conselheira, por favor
Se o Alcaide lhe fez mal
Ao falarem do Cabral
Pense no descobridor
Pois do amor afinal
É meizinha um amor novo.
Os ateus mênstruos já não sorvo
Se sentes arder o cono
Vai deitar com outro mono
Não fodas com nosso povo.
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Página publicada em agosto de 2025.
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